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Mae West

Musas da Zingu

SENSUAL, IRREVERENTE, DONA DO SEU DESTINO

Nenhum compêndio comprova, mas, provavelmente, a palavra Musa – estilo Perua – começou a ser esculpida no dia 17 de agosto de 1893.

Nascia Mary Jane, filha de Matilda e John. Para os íntimos: Mae West. E foram muitos os íntimos.

Desde pequena,  Mary “torceu o pepino” e mudou o texto original. Chamada pelos pais e amigos de May, deixou claro que o correto era Mae. E explicou: o “Y” é para baixo e o “E” é para cima.

Esse dia marcou a vinda daquela que seria chamada “a mulher mais sexy do século”. A mulher que daria “o pontapé inicial” para a emancipação feminina, no campo social,  pessoal e principalmente sexual.

O pai de Mae, John, tinha sido lutador de boxe e sempre levava sua pequena garota ao ginásio onde seus amigos treinavam. Dizem que foi já a partir daí, que  Mae  West  passou a se interessar por homens musculosos.

Com sete anos, a mãe de Mae inscreveu a filha num concurso de canto. Mae recebeu a letra da música que ia cantar, não gostou de algumas palavras, trocou o texto e ganhou vários prêmios.

Desde pequena,  Mae  freqüentou e atuou no vaudeville (teatro de revista)  A malícia estava no ar e nos textos, e a adolescente Mae sentiu que estava em casa.  Mae viajava muito, tinha problemas com os pais. Fácil de resolver, pensou: casou com Frank Wallace, um ator da companhia, ele com 17 anos.

Com irreverência e descontração fora dos padrões da época, Mae fazia grande sucesso no vaudeville. Além de interpretar papéis “apimentados”, sempre explorando a sensualidade e o sarcasmo, ela criava esquetes só para ela e escrevia  todas as suas falas, sempre com forte conteúdo erótico. Em 1911, faturava 350 dólares por semana. Mae sempre “tomou o futuro” em suas mãos , buscando a carreira que pretendia ter, além de uma imagem marcante que aperfeiçoava espetáculo a espetáculo.

SEX

O impressionante sucesso no vaudeville não bastava. Mae queria mais. Sempre mais. Ela escreveu sua primeira peça, quebrando mais um tabu, pois esse universo – a dramaturgia –era dominada por homens. A peça era sobre uma prostituta de “coração mole”, chamada Marge L´amour. Mae usou um pseudônimo: Jane Mast. O primeiro nome sugerido para a peça: “O Albatroz”.

Albatroz? Nem pensar. A peça vai se chamar SEX,  decretou Mae.

Vamos nos situar. O ano é 1926. A palavra SEX numa tinha aparecido impressa em local público. Pior foi quando Mae exigiu que SEX enfeitasse a entrada do teatro com um letreiro luminoso. Os proprietários, claro, negaram.

Entre a platéia que lotou o teatro, muitos policiais. Assim que as cortinas baixaram, Mae foi presa. Passou 10 dias na cadeia. Dizem que sempre jantava com os guarda. Ao sair, teve que pagar multa de 500 dólares por “corromper a moral dos jovens”.

Mae pagou com um sorriso nos lábios. Finalmente, sabia: tinha encontrado o caminho, a face e o espírito da verdadeira Mae West.

SEX deu buchicho, trouxe dinheiro extra para a propaganda da peça e fez de Mae uma personalidade.

Sem perder um minuto,  Mae “colocou mais lenha na fogueira”. Aproveitando a fama (de sensual, mulher de vários amantes) que trazia de suas interpretações no vaudeville, gravou discos com músicas de cabaré. A esperta e talentosa Mae ronronava como uma “gata mansa”, e público ouvia e sentia que ela  “tinha vivido tudo o que cantava”.

DIAMOND LIL

 

Sempre disposta a se superar,  Mae West escreveu em 1928 a peça que tornou-se a sua marca registrada: Diamond Lil. A ação se passava em 1890, num bairro pobre de Nova York e contava a história de uma “bem sucedida” mulher de negócios. Lil tinha, também, um coração de ouro e muitos diamantes presenteados por seus admiradores. Qualquer semelhança com SEX, ou com a própria Mae, não era mera coincidência,

Em Diamond Lil, produzida por Mae, ela cunhou uma das suas famosas frases: “Venha me visitar uma hora dessas.”

Com Diamond Lil, finalmente,  Mae chegou à Broadway. A peça foi encenada 176 vezes. Fez turnês por vários estados e permaneceu em cartaz nos próximos 30 anos.

Com o sucesso, assédio dos fãs e da imprensa, a vida sexual de Mae sempre foi um “prato” disputado com ardor. Disseram que ela era amante de um gangster;  que em sua cama passou o músico Duke Ellington. Ele, negro. Ela, branquela.  Discreta, discretíssima em relação à sua vida pessoal, Mae calou a boca de uma imprensa afoita e preconceituosa dizendo: “Não sou um símbolo sexual. Sou uma personalidade sexual.”

O CINEMA

 

Era um sonho, mas Mãe esnobou por bom tempo o cinema sonoro. Ao primeiro convite da poderosa Paramount, ela disse um  cínico: “Vou pensar”.

No ano de 1932, a Paramount lhe recebeu de braços abertos. Em seu primeiro filme, “Night After Night” acontece outro dos  célebres diálogos de Mae . Quando a sua personagem, uma garota de programa,  chega ao hotel onde está hospedada, a recepcionista vê as jóias que ela exibe e exclama: “Deus, belos diamantes!”. Ao que, imediatamente, Mae responde: “Deus não teve nada a ver com isso”.

Outro momento delirante. Uma amiga de profissão pergunta a Mae: “Você acredita em amor à primeira vista?”. E Mae: “Não sei, mas economiza muito tempo.”

Na tela, além de liberal, sensual e sempre independente, Mae parecia um mulherão. Na verdade, tinha 1,52m de altura, que ela, como boa perua, compensava com um salto de 18 cm.

Os dois primeiros filmes de Mae  – Night After Night” e “Uma Mulher para Três” (She Done Him Wrong) fizeram tanto sucesso salvaram a Paramount da falência. No terceiro filme, “Nunca Fui Santa” (I’m no Angel) ela voltou a trabalhar com o galã Cary Grant.

Contam as fofocas que indo de carro para o set de filmagem, Mae pediu que o motorista parasse o carro imediatamente. E perguntou: “Quem é aquele homem? Aquele bonitão? É um homem assim que eu quero no meu próximo filme.” Assim nasceu a carreira cinematográfica de Cary Grant. Circularam boatos de um caso entre os dois…e  Mae sempre “na dela”.

Com o sucesso dos seus filmes: homens e mulheres a adoravam. Diziam: ela representa na tela o que acontece na realidade, no dia-a-dia, no coração e nos sonhos dos seus fãs.  Mae chegou ao maior salário da época para uma estrela de cinema: 300 mil dólares por filme.

PERSONALIDADE SEXUAL

 

Definida pelo escritor F. Scott Fitgerald como uma mulher com “infinita alegria de viver”, Mae West tornou-se um símbolo da emancipação sexual das mulheres. Segundo ela, uma mulher podia ter o mesmo apetite sexual de um homem. E garantia: isto é totalmente natural. Mais: que ela – ou qualquer outra mulher – podia viver um romance fora do casamento sem ser condenada por isso. E sugeria que, as vezes, a mulher podia e devia tomar a iniciativa. Isso em 1935. Mae não era mole, não!

A CENSURA E A VOLTA AO TEATRO

 

Se o público adorava os diálogos apimentados sempre escritos por Mae em seus filmes,  , os censoras da época a detestavam. E dá-lhe “tesoura”, em nome da moral e dos bons costumes.

Mae era de “pavio curto”. Voltou para o teatro.

Em 1954 expandiu suas atividades. Escreveu e encenou uma peça que revolucionou o padrão de espetáculos tão freqüentes na cidade de Las Vegas. Misturando diálogos cheios de malícia, Mae se cercou de uma dúzia de homens musculosos, tipo Mister América, vestindo sumários calções, praticamente seminus.  A peça – definiu Mae – era um convite explícito para que as mulheres da platéia pudessem “comer os rapazes com os olhos”, tal qual os homens faziam com as mulheres que se apresentavam em Vegas. “Mae and her Adonis!” bateu recordes de bilheteria. E rendeu mais um diálogo memorável.

Na peça, cercada de uma dúzia de homens musculosos, ela vira para um que está chegando e diz: Como vai, alto, moreno e musculoso? Ao que ele responde: Oh, srta. West, vou vestir o meu roupão. E ela ensina: Não se preocupe, um pouco de propaganda é sempre bom.

Mae estava de novo “em alta”. Com seus deliciosos e invejados 61 anos de idade.

PREOCUPADA COM A ATUAÇÃO

A curiosidade de público e imprensa sobre os muitos casos de amor de Mae – nunca expostos por ela publicamente – levou até uma amiga de Mae a questionar: “É verdade que você teve casos com todos aqueles homens da peça em Las Vegas?”. Ao que Mae, com aquele olhar malandro, sedutor e sempre dúbio, respondeu: “Tem coisas, garota, que nunca se perguntam a uma dama.”

Freqüentemente convidada para programas de rádio ou TV, Mae recebeu um entrevistador de TV em seu apartamento. Era a primeira vez que abriria ao público um pouco de sua intimidade.  O apresentador e seu câmera não pouparam detalhes do apartamento onde Mae morava, bem próximo dos estúdios da Paramout. Era o apartamento típico de uma Musa Perua:  superdecorado, cor bege predominando – para realçar a figura de Mãe, que adorava roupas escuras – ,  piano de cauda,  quadros relativamente  famosos e uma cama à Luis XV, com um enorme espelho no teto. O cioso repórter perguntou do espelho. Ao que, Mae respondeu: “Gosto sempre de ver como estou me saindo”.

Esse programa nunca foi ao ar.

Durante sua vida, carreira no teatro, cinema e showbiz, Mae West cunhou frases e diálogos que revelaram sua deliciosa personalidade. Algumas que separei:

– Qual é a sua altura?
– Dois metros e dezoito, respondeu o caubói.
– Vamos deixar os dois metros pra lá e tratar destes dezoito centímetros.

– “Claro que meu amante pode confiar em mim. Eu disse a ele que centenas já confiaram.”

“Ama o teu próximo – se ele for alto,moreno e bonitão, será muito mais fácil.”

“Uma mulher só precisa de quarto animais na vida:uma raposa no armário, um tigre na cama, um Jaguar na garagem e um burro para pagar tudo isso.”

Isso é uma arma em seu bolso ou você está feliz por me ver.

Já estive em mais colos do que um guardanapo.

Encontrei homens que não sabiam como beijar. Sempre achei tempo para ensiná-los.

“Entre dois pecados, eu escolho um que eu ainda não cometi”

“Garotas boas vão para o céu, as más vão para todo lugar”

 

“Eu mesma escrevi a história. É sobre uma menina que perdeu a reputação e jamais sentiu falta”.

 

 

Filmografia de Mae West

 

Night After Night

She Done Him Wrong

I’m no Angel

Belle of the Nineties

Goin’ to Town

Klondie Annie

Go West Youg Man

Every Day’s a Holiday

My Little Chickadee

The Heat’s On

Myra Breckinridge

Sextette

 

Mae West é texto produzido e publicado originalmente na revista Zingu  número 48, http://www.revistazingu.net/2011/08/musas-eternas-9

Leiam também a revista Zingu número 49, http://www.revistazingu.net/edicao-49 , que completa cinco anos de vida e homenageia o magnífico e talentoso diretor Walter Hugo Khouri e sua musa Lilian Lemmertz.

Mais cinema brasileiro na Zingu número 50, no ar, http://www.revistazingu.net/ , com homenagens ao ator galã Toni Cardi e à atriz Wilza Carla. Eu escrevo sobre “Uma Noite em 67”, documentário que foca sua atenção no Terceiro Festival de Música da Record.

 

Edu Jancz (pseudônimo de José Edward Janczukowicz – jornalista diplomado – MTB 10761)

edujancz@gmail.com

https://edujancz.wordpress.com/

praca da sé, detalhe.

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